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25/06/2015

Entrevista Exclusiva - Andrea Pivatto

Em Entrevista ao Mundo Bailarinístico, a coreógrafa e diretora do Grupo Divinadança Andrea Pivatto fala sobre a dança contemporânea, sobre sua trajetória e experiências como professora e coreógrafa.
Andrea Pivatto foi professora convidada na Cia. de Dança de Diadema, de São José dos Campos e São Paulo Cia. de Dança. Coreógrafa Revelação do Festival de Dança de Joinville em 2001 e Grand Prix Brasil /Paulínia em 2011. Agraciada com Residência Artística em Stuttgart, Alemanha na Akademie Schloss Solitude, de fevereiro a maio de 2013.

Você possui uma trajetória com formação clássica, em que momento enxergou o contemporâneo como o caminho para desenvolver sua carreira?
O ballet clássico esteve em minha logo no início aos 7 anos de idade quando por um problema ortopédico me foi indicado fazer o ballet para que tal problema fosse sanado, E FOI. Depois disso tive contato com o Jazz e a Dança Moderna. No meio dessas experiências me formei em Psicologia, mas foi mesmo quando encontrei um coreógrafo chamado Peter Lavratti já aos 27 anos que descobri que esta vertente da Dança era aquela que mais me interessava. Foi identificação imediata porque me foi possível experimentar um corpo não tão formal e com inúmeras possibilidades.

Na dança contemporânea há uma movimentação menos "engessada" que no ballet clássico e uma busca por novos movimentos possíveis. Como achar que fisicamente os bailarinos devem se preparar de maneira diferente para uma ou outra modalidade?
Acho que a palavra engessada não cabe no que se refere ao Ballet Clássico, prefiro usar a palavra "formal" mas acredito que o ballet clássico pode sim não ser "engessado". É possível produzir dança acadêmica e artística mesmo através desta formação mais técnica e formal, onde um bailarino clássico extrapole os limites desta técnica e comunique com arte. Mas é fato que a dança contemporânea é extremamente generosa nesse sentido.
Com relação à preparação de um corpo dançante tudo vai depender daquilo que se propõe, mas penso que o processo de aula seja ela de conscientização corporal "apenas" ou condicionada a alguns registros específicos são fundamentais para um corpo que necessita estar afinado como um instrumento para que seja tocado. É preciso que este corpo esteja preparado para o movimento mesmo que este seja aquele que sirva de entretenimento "apenas" e bem-estar. Obviamente que o processo da dança profissional necessita um trabalho mais intenso e complexo assim como o é a dança proposta. Essa cognição, essa aquisição do conhecimento sobre o próprio corpo é que vai diferenciar um interessado, um amador, um profissional. Tudo vai depender da busca de cada indivíduo.

Poderia falar a respeito da relação da dança neoclássica, moderna e contemporânea? As principais similaridades e distanciamentos.
Todas dialogam de alguma forma, seja pelo uso de mecanismos construídos com o mesmo objetivo ou mesmo a desconstrução destes.
As 3 "danças" citadas de alguma forma partiram de buscas por algo que não fosse o condicionado até então. Cada uma encontrou mecanismos técnicos e artísticos que as  permitissem existir e terem identidade. A dança contemporânea porém permite a não codificação, não sei se é porque ela ainda está acontecendo no hoje, no momento, ou se é também pelo fato de ser tão aberta a qualquer forma de arte que na verdade gosto de incluir a dança contemporânea no termo arte contemporânea. Mas tudo vai depender do artista que a propõe. E é fato que ela e somente ela a meu ver consegue emprestar a si mesma para todas as outras danças assumindo um papel agregador e generoso.

Como professora, o que cada um de seus alunos deixa em você?
Bom, poderia dar uma entrevista apenas para falar sobre este assunto.
Acredito que um professor assume diversificados papéis e dependendo de cada um destes é possível aprender e apreender muito sobre a vida.
Existem aqueles alunos que foram sua "cria", alguns que você deu algumas aulas, outros que você encontrou apenas em 1 único workshop ministrado. Cada um deixa algo, mas de uma maneira geral a coisa mais importante que fica é a relação que aconteceu, seja ela momentânea ou eternizada de alguma forma. É na relação com o aluno que nos descobrimos professor, coreógrafo, artista e formador de opinião. A responsabilidade de um professor vai além do ensino "técnico" e a dança por permitir um tempo grande nesta relação viabiliza um exercício de cidadania e humanidade ímpar.
Para mim que exerço diferentes "papéis" na Dança, minha atuação enquanto professora é aquela que definitivamente me realiza de forma mais ampla e mais humana.
E sou grata a todos estes milhares de corpos que já passaram pela " minha mão", seja em curtos períodos ou longos, porque ajudaram a construir a profissional em que me tornei hoje.

Acredita que todo bailarino pode ser coreógrafo, ou há características que se fazem fundamentais para montar boas coreografias?
Acredito que todo bailarino que já tenha propriedade sobre elementos importantes da dança possam sim ser coreógrafos. Porque se você possui registros e habilidades corporais complexas você é capaz de construir algo elaborado, mas é fato que um criador precisa de outros recursos que alimentem sua criação. Sempre penso e acredito que um criador necessita além de tudo generosidade para dividir sua busca, curiosidade para buscar algo que não foi feito, coragem para ir atrás do que acredita e paciência para encontrar sua própria assinatura, além de estudo, e aqui inclui questionar, saber sobre o mundo, sobre a vida, ter uma visão politizada de seu papel de cidadão. É preciso observar profundamente a vida, o planeta, a natureza, o que está aí e que todos vivenciamos mas também aquele lado do ser humano que corresponde a sua própria psique.
O talento para a criação é necessário e  é o que diferencia alguns criadores de outros mas é preciso que uma certa maturidade emocional também circunde este ambiente no qual a criação vai ocorrer. Além do que o elenco de cada criação precisa estar preparado para absorver a idéia do criador e também é preciso que este consiga traduzir para este corpo que vai executar sua obra aquilo que ele pretende comunicar.

Para você dançar é:
Uma forma de estar no mundo, uma prazerosa maneira de fazer parte de um grupo que através do movimento comunica-se com este mundo. Ao mesmo tempo é conectar-se a uma outra dimensão, como se uma energia fosse condensada e transportasse não apenas nosso corpo mas o espírito para um mundo mágico mesmo que seja para falar da própria e dura realidade.
Ao mesmo tempo é conectar-se a uma outra dimensão, como se uma energia fosse condensada e transportasse não apenas nosso corpo mas o espírito para um mundo mágico mesmo que seja para falar da própria e dura realidade.
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