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01/07/2016

Você no Mundo - "Nada é tão nosso, quanto nossos sonhos" Por Jennifer Adane Mór

Olá, tudo bem?
Meu nome é Jennifer Adane Mór, sou Porto Alegre, moro Gravataí, Rio Grande do Sul. Tenho 19 anos.
Hoje vou contar um pouquinho da minha história. Vou tentar resumir... hehe.
Quando tinha uns 6 anos minha mãe resolve em colocar no ballet. Na época minha professora estava tentando de estabilizar em algum lugar, então, desmotivei um pouco, de ela ficar indo pra lá e pra cá. Um belo dia, vendo a novela Páginas da Vida, vi a bailarina Giselle, a bulímica, e apesar da imagem negativa da novela em relação ao ballet, as partes que apareciam a aula, barras, sequências me encantaram. Comecei a pedir para a mãe me colocar novamente no ballet.

Foi uma época muito legal, aprendi muito. Tinha 10 anos na época. Minha turma já estava mais avançada, porém, a professora acreditou em mim e em um mês já estava acompanhando. 
Aí, aconteceram coisas ruins.
Minha mãe ficou sem dinheiro e tive que parar. Prometeu que em 2008 eu retornaria e tudo se ajeitaria.
Quando estava prestes a recomeçar, minha mãe passou mal e foi para o hospital Conceição (fica em Porto Alegre, RS). De lá, não saiu mais. Descobrimos que estava com câncer. Sou a única menina em 4 irmãos mais velhos, meu pai era separado da minha mãe, mas, sempre estava lá em casa, então, sempre tive eles mais ou menos juntos, nunca encarei como separados na infância. Tenho duas irmãs por parte dele. No começo, meu pai estava conosco. Não sabia muito do que se tratava a doença, pois, ninguém me dizia. Ficava em casa com a minha avó, e o povo todo no hospital, eu achava que ela iria fazer um procedimento e voltaria para casa bem. Porém, não foi assim. No ano de 2008 todinho, ficamos na função de hospital. Era câncer de útero, aí foi para ovário, na mesa de cirurgia, acharam no intestino. Retirou útero e ovário, mas, a principio no intestino não. Ela voltou para casa. Tínhamos pintado tudo, organizado e preparado para o grande momento. Eu não me lembro muito bem de tempos sabe, mas, creio que ficou uns 3 meses no Hospital Conceição, e depois de uns meses, foi para a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Ela ficou algum tempo lá. Foram os meses mais intensos da minha vida. Já estava longe do ballet, estava na sexta série. Na função toda, ia de manhã para a escola e a tarde para o hospital fazer cia a ela. Cuidar, conversar, brigar... Ela tinha feitos inúmeros procedimentos e tirado boa parte do intestino. Estava fraca demais para fazer quimioterapia.

Eu sabia da gravidade da situação. Mas, eu acreditava que tudo ficaria bem. Finalzinho de 2008 ela estava em casa. De cadeira de rodas, pois, uma das artérias estava comprometida com o câncer e ela não quis tirar, pois, teria que amputar a perna. Aí, mexeram em não sei onde no tendão que fez que ela teve que fazer fisioterapia. Estava fraca também, então, conseguimos da prefeitura uma cadeira de rodas. Meu pai, saiu de casa. Vinha para leva-la ao hospital para fazer exames e dar as receitas mas, o resto ficou comigo. Curativos na barriga, bolsinha de colostomia, massagens, dores, tratamentos. Com 11, 12 anos, eu era enfermeira pós graduada e psicóloga (rsrs). Brincadeiras a parte, encarava tudo com muita seriedade, pois, sabia que dependia de mim, a força de vida dela. Foi um ano difícil. Meus irmãos tinham trabalho e filhos, final de semana davam uma atenção especial a ela. Minha avó ajudava na comida, que tinha que ser especial pelo câncer.... Não pode comer casca disso, não pode aquilo. Ela tinha que fazer xixi em comadre, eu tinha que dar banho, dar o coquetel de remédios... Em fim, essa é a história por cima de todo processo que tivemos.
Em 2009, quando ela voltou para continuar o tratamento em casa,  me pôs no ballet novamente. Neste ano ela viu meu primeiro espetáculo, que foi num salão de uma igreja. Não conseguiu acompanhar tudo pela dor, mas, me viu dançar. 
Em janeiro de 2010, ela faleceu.
Entretanto, ela quando pequena tinha o sonho de dançar. Fazer o tal do ballet, que só era pra gente com dinheiro. Nunca teve oportunidade. Quando voltei ao ballet, minha professora tinha se mudado novamente de lugar (a mesma daquela época), e aí ela disse -filha, só vai ficar nós duas nessa casa imensa, faz uma sala aqui-.
Dizia que eu ia me tornar uma professora e ela seria a diretora da escola, iria fazer a parte administrativa, pois, quando jovem, fez curso de secretariado e datilografia (para quem não sabe, é curso para aquelas máquinas de escrever). 
Isso sempre ficou na minha cabeça.
Em janeiro, no mês que ela faleceu, passamos algumas semanas na casa do meu irmão, e ela pediu para que ele nos ajudasse com a escola de dança. Fazemos uma sala ali, arrumamos aqui... Acho que estava criando esperanças para uma vida nova. Minha mãe dedicou-se a vida toda para cuidar dos seus filhos. Nunca teve a oportunidade de viver uma carreira ou uma independência. Coisas da geração dela. 
Ela faleceu e eu desabei. Tinha 13 anos.
O ano de 2010 não foi fácil. Continuei no ballet, coloquei a tão sonhada sapatilha de ponta... Era da casa para escola, da casa para o ballet e me afundava em animes e chocolates. Não queria saber de mais nada. Fiquei antissocial. 
Em 2011 meu irmão, me convidou para morar com ele. Coisas novas, pessoas novas, vida nova. Comecei a estudar, trabalhar e fazer crisma (que era uma vontade da minha mãe).
Eu tinha consciência que mesmo ela não estando aqui fisicamente, eu iria fazer tudo para que ela se orgulhasse de mim onde estivesse.
Mas, o ballet parou. Não tinha lugar para fazer, nem tempo... Porém, fazia a varanda de sala e lá eu ia, flex e ponta, flex e ponta...
2012 voltei para minha casa, não aguentei. Era o o lugar onde me sentia perto dela. Fiz amizades e experiências incríveis lá na cidade nova. Mas não era a mesma coisa. 
O ano de 2012 foi um ano de coisas maravilhosas e as tais coisas ruins. 
Voltei para o ballet, terminei o estágio e comecei a fazer monitoria na sala daquela professora. Comecei a namorar um príncipe (que hoje é meu noivo) e me apresentei num teatro, com meu primeiro solo, a dona Kitri.
Mas, meus avós faleceram, em abril vô, em agosto, vó. 
Lá estava eu, perdidassa de novo. Sem saber para onde ir, o que fazer...
Resolvi continuar...
Em 2013 foi o ano que em me formaria no Ensino Médio e chega aquele momento em que todos se perguntam - o que vou fazer da minha vida? - 
Escolhi o Direito. Talvez porque seria uma profissão que desse dinheiro, que seria respeitada, que tivesse um conforto na vida. Fiz pré vestibular e não passei. Chorei, fiquei muito triste, porém. Deus sabe o que faz.
Em 2014, foi o ano de eu ser bailarina. Já dando aula de baby class em escolinhas, dando aula em academia, eu era bailarina em um Studio de Dança muito querido por mim até hoje, adotei como uma família. 
Fomos para 3 festivais. Dos três, dois saímos com premiação, inclusive um solo inaugurado por mim. Sentada ao lado da minha professora, eu tive aquele momento que temos na vida... O famoso "click". Dança era coisa séria. vendo estúdios de dança de todos os lugares, Rio Grande do Sul todo, até argentinos, eu percebi uma possibilidade. 
Minhas turminhas na academia estavam lotadas. Como era uma academia fitness não tinha infraestrutura nenhuma. Não tinha vestiário e tínhamos que dividir o barulho com a música da academia, o professor de muay thay e etc. Saía rouca e exausta. Tinha que assinar recibos em cima do rádio e os pais tinham que ficar na sala olhando as aulas (para quem é professor, sabe o quanto é ruim para o aprendizado). 
Até que, meu namorado olhou para mim e disse: Por que não fazemos uma sala lá na tua casa? Não era um sonho da tua mãe?
Por coincidência, eu tinha acabado de receber a herança da casa dos meus avós (a parte da minha mãe foi repassada para nós, já que falecera). Convidei minha professora para uma parceria, ela não quis. Desmotivei. Achei que era nova demais para abrir um negócio sozinha. Depois que não passei no vestibular de Direto, resolvi fazer um cursinho técnico em administração (para não ficar sem estudar). Foi aí que conversei com meus professores e eles me incentivaram muito para investir. Depois de muito incentivo do meu namorado, começamos as obras. Novembro de 2014 começamos a função. O meu noivo começou sozinho, depois meus irmãos nos ajudaram... Tive uma grande ajuda de um deles para um empréstimo e investi (aquele que a minha minha mãe pediu ajuda). Cunhadas, sobrinhas, amigas, amigos.... Era todo mundo com a mão na massa. 
No dia 25 de fevereiro de 2015, inaugurei meu estúdio. Tinha 18 anos. E que nome eu daria? O meu? não. 
Seria uma grande oportunidade de homenagear ela. Ficou, Estúdio de Dança Lousane. Dias antes, recebi a noticia que tinha passado no vestibular para Licenciatura em Dança, na UERGS (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul). Hoje, não escolheria outra faculdade, pois, o que eu ganho, (e não estou falando em dinheiro), com a dança, é insubstituível. E o curso é fantástico!!!!
Foi um ano maravilhoso.
Dirigi meu primeiro espetáculo (e não foi fácil, diretoras entenderão). Fiz cursos, estudei, passei por momentos bons, ruins...
Mas de uma coisa eu sei, Deus sabe o que faz.
Existe um ditado que diz "Nada é tão nosso, quanto nossos sonhos". E é a coisa que me inspira a cada dia, para ser um grande Estúdio daqui a algum tempo.
Hoje tenho uma equipe de quatro professores, em Ballet Clássico, Dança do Ventre, Danças Urbanas e Ritmos. 
Tenho uma grande amiga, Cláudia, que é a minha recepcionista. 
Temos em média 100 alunos.
E aos pouquinhos, vamos indo. 

Agradeço a Deus, meu noivorido Gustavo e minha família.

Obrigada por deixar compartilhar minha história com vocês! (o começo dela)
Segue o link do estúdio a e algumas fotos.
https://www.facebook.com/Est%C3%BAdio-de-Dan%C3%A7a-Lousane-961071547238186/?fref=ts
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