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11/12/2014

O ballet das cortes

O Ballet da Corte nos Séculos XIV e XV havia três formas populares de entretenimento nas côrtes: interlúdios, pantomimas e mascaradas.


       "Interlúdios" eram apresentações curtas feitas por cantores e dançarinos durante os banquetes. Pantomimas eram paradas de carroças, alegremente decoradas, cheias de atores. Cada carroça parava em frente ao convidado de honra e seus membros recitavam-lhe ou entregavam-lhe um poema. Mascaradas eram dançarinos mascarados e disfarçados que podiam irromper na platéia e apresentar-se para a multidão.
        Durante o Renascimento na Itália, nos Séculos XV e XVI, essas formas foram gradualmente fundindo-se em espetáculos que combinavam poesia, música, mímica e dança. Os nobres utilizavam estes espetáculos para demonstrar a saúde, o poder e o gosto deles enquanto divertiam seus ilustres visitantes. Os artistas eram todos homens e amadores. O único profissional na côrte era o mestre de balé que organizava as produções. Além dos figurinos fantásticos, os bailarinos usavam máscaras, algumas delas feitas de uma fina rede de ouro. A primeira bailarina profissional apareceu nos palcos da França em 1681.        O primeiro ballet registrado aconteceu em 1489, comemorando o casamento do Duque de Milão com Isabel de Aragon. Quando a italiana Catarina de Medicis casou-se com o Rei Henrique II e se tornou rainha da França, introduziu na corte francesa este tipo de espetáculo com grande sucesso.
       Os poetas da Corte passaram a organizar as festas. Agora, iam buscar os temas das festas e das peças na mitologia, na história, na fábula, e não nas Escrituras. Esforçam-se para coordenar a medida de seus versos e da música com os passos e movimentos dos bailarinos.
        O mais belo e famoso espetáculo oferecido na corte desses reis foi o "Ballet Cômico da Rainha" (1581), organizado para celebrar o casamento da irmã de Catarina. É o primeiro Ballet da Côrte: a música, a poesia, a coreografia, a decoração, a iluminação, mesclavam-se num espetáculo confuso. Já não era um espetáculo popular, mas um divertimento de príncipes. Durava de 5 a 6 horas e fez com que a rainha fosse invejada por outros casais reais europeus. Era uma obra coletiva com um "tema" dramático. Os temas eram tirados da Antiguidade e adaptados à atualidade, à política, à diplomacia, aos acontecimentos da realidade contemporânea. O elemento narrativo, "literário", estava confiado a declamadores que falavam ou cantavam, geralmente nos bastidores, "dublando" o ator em cena; a música, obra sempre coletiva, compreendia coral, récitas, coros e música instrumental, sempre pitoresca e descritiva. O cenário tinha elementos móveis, máquinas e carros, nuvens mecânicas donde saíam deuses e gênios. No que diz respeito à coreografia havia uma distinção entre as Entradas e o Grande Ballet ou apoteose final. As Entradas eram evoluções de máscaras, demônios, faunos, amores; cenas rústicas de aldeões e lenhadores; paradas de acrobatas com pirâmides humanas, saltos mortais, atrações exóticas. Cortavam o espetáculo, entradas musicais constituídas de grupos de músicos tocando alaúde ou viola, oferecendo um momento de descanso aos espectadores. A coreografia das entradas dava à pantomima o maior papel: "os gestos e os movimentos significam o que poderia exprimir-se por palavras" (Idéias sobre os Espetáculos Antigos e Novos, 1668 - Pure). É a comédia muda.
         Estas entradas eram simples desfiles ou davam lugar a evoluções coletivas reguladas por traçados geométricos. Era a arte das "figuras" que com as atitudes do corpo e as expressões constituiam a dança. As danças de baile, as pavanas, as volutas, galhardas ou danças alegres de roda só muito raramente figuravam nos ballets, quando exigidos pela ação. Por exemplo: uma dança de aldeia, uma dança regionl numa cena campestre ou exótica.
         O Grande Ballet era destituído de significação dramática. As evoluções dos indivíduos eram, igualmente, formadas de passos deslizados, marchas com saudações, reverências, em filas ou quadrados, em círculo, em cruz de Santo André (xadrez). "Mesclas geométricas de várias pessoas dançando juntas, segundo uma harmonia de diversos instrumentos" , dizia Beaujoyeulx que descreve um Ballet da Rainha que ele regera: "Os violinos mudaram de tom, começaram a tocar a entrada do Grand Bellet, composta de 15 passagens, dispostas de tal modo que, no fim de cada passagem, todos voltavam a face para o Rei: e chegando diante de Sua Majestade, dançaram o Grand Ballet de 40 passagens ou figuras geométricas. As evoluções em figuras geométricas ora são em triângulo cujo vértice é a Rainha, ora quadrados pequenos ou grandes; elas rodavam, entrelaçavam-se em cadeia, desenhando figuras variadas com um conjunto e um sentido de proporção que maravilhavam a assistência".
         A dança é horizontal. A platéia considera-a do alto dos estrados e balcões. O ballet deriva da geometria: Beaujoyeulx, qualificado de "geômetra inventivo"; e Beauchamp, posteriormente, inspirar-se-á nas figuras que seus pombos desenham no solo, quando lhes lança milho. Algumas paradas militares e os carrosséis, verdadeiros ballets de soldados e cavalos, são ainda um reflexo seu. O ballet tornou-se uma regularidade na corte francesa que cada vez mais o aprimorava, combinando dança com música, canções e poesia e atinge o auge de sua popularidade quase 100 anos mais tarde, através do Rei Luís XIV.
        O jovem Rei, Luís XIV, que reinou na França de 1643 a 1715, adorava a dança, a música, o teatro, os ballets. Gostava de neles figurar mascarado como um bailarino teatral. Sua estréia como dançarino remonta a 1681. A partir daí tomou parte em vários outros ballets, aparecendo como um deus ou alguma outra figura poderosa. Seu título, "Rei do Sol" , vem do triunfante espetáculo que durou mais de 12 horas. Luís XIV fundou , em 1661, a Academia Real de Ballet e a Academia Real de Música. Oito anos mais tarde, fundou a Escola Nacional de Ballet. A dança se tornou mais que um passatempo dos nobres: tornou-se uma profissão. Os espetáculos foram transferidos dos salões para os teatros.
        Em 1660 e 1662, na altura do casamento de Luís XIV, o Grande Ballet anual tornou-se uma instituição de Estado. Pierre Beauchamp (1636?-1705) desde 1648 'preparava todos os ballets", ensinara o jovem Rei a dançar e fôra nomeado compositor dos balles da Côrte. Herdeiro da tradição dos mestres italianos, fixou a nova tradição da dança francesa nobre. Mais tarde, quando a dança escapa dos cortesão amadores para tornar-se ocupação de profissionais, o Ballet será elevado à condição de teatro. Mudará sua ótica e transformará sua técnica: os movimentos dos braços, dos joelhos, os tempos saltados e batidos e logo depois as figuras de elevação, deverão já não ser vistos do alto, mas de frente.
        No fim do reinado de Luís XIV, no entanto, a comédia e a tragédia, sendo já autônomas, romperam com a música e a dança. A Ópera tinha nascido e se afirmado; o Ballet de Côrte, após uma época brilhante, esgotara-se. O ballet iria, de agora em diante, tomar outras formas.

Fonte: Projeto Corpo e Alma

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