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11/10/2017

Entrevista Bailarino Yoshi Suzuki

Foto: Felipe Lessa
Yoshi Suzuki , natural de Ribeirão Preto, iniciou seus estudos em dança aos 10 anos, técnico em Dança pelo MEC, colecionou diversos prêmios, entre eles o de melhor bailarino do Festival de Dança de Joinville. É muito chique tê-lo aqui no Mundo Bailarinístico hoje compartilhando um pouco de suas vivências com a gente de uma maneira tão generosa!

Yoshi estagiou na Companhia de Dança de São José dos Campos em 2007 e em 2008 passou a integrar a São Paulo Companhia de Dança, promovido a solista em 2014 pela então atual diretora da Companhia Ines Bogéa.  Convidado em diversas Galas pelo Brasil e pelo mundo, ja dançou na França, Italia, Suíça, Austria, Alemanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Israel, Canadá, Estados Unidos, Argentina, Colômbia, Chile e Uruguay.

Trabalhou com grandes nomes da dança nacional e internacional, e em seu repertório incluem obras de coreógrafos como Balanchine, Uwe Scholz, Jiri Kylian, Forsythe, Natcho Duato, Edouard Lock e Marco Goecke e Marcia Haydee.


MB - Quando falamos a palavra "Ballet", as pessoas rapidamente associam à meninas bailarinas. Como foi sua escolha por dançar e a sua trajetória na dança até chegar ser um bailarino profissional?

YS: Minha mãe me contou que aos 5 anos perguntou para mim e minha irmã qual atividade gostaríamos de fazer depois dos estudos, minha resposta foi o ballet, da minha irmã o Judô, minha mãe acabou nos colocando na natação! Sempre me lembro de ficar na escola olhando as meninas fazendo aulas de dança, sempre gostei.
 Aos 10 anos falei novamente para minha mãe que queria dançar, então me inscrevi nas aulas de sapateado, 2 anos depois comecei as aulas de Jazz, e aos 14 anos decidi fazer um workshop que ofereciam em um dos festivais competitivos na minha Cidade (Ribeirão Preto), no final do curso o professor veio falar com a minha mãe, disse que tinha talento porém precisava fazer aulas de ballet para aprimoramento, foi então que o ballet entrou na minha vida. Passei dos 15 aos 17 anos participando de inúmeros festivais de dança, tenho lembranças maravilhosas dessa fase da minha vida, e foi nessa época que decidi que essa era a profissão da minha vida. Não foi fácil, mas minha família me apoiou muito, minha mãe fez de tudo para realizar o meu sonho, minha família dizia que que eu deveria estudar dança como se fosse para passar em primeiro lugar na FUVEST em medicina! hahahahahahah! 
Fiz a primeira audição para bailarinos da São Paulo Companhia de Dança, isso foi em 2008, na época quase desisti do meu sonho, já havia participado de alguns concursos para bolsa de estudos em escolas fora do país mas sempre era excluído por ser muito baixo, estava pensando em todo o investimento que minha mãe e família fizeram para que continuasse dançando até então, minha decisão foi que se não conseguisse contrato eu abriria mão da dança (minha primeira crise em relação a profissão), no final da audição recebi um contrato como bailarino. Aos poucos, com muito estudo e esforço fui aprendendo o que é trabalhar em uma companhia de dança, uma realidade bem diferente enquanto somos estudantes, muitas outras coisas entram em consideração no momento que isso vira sua profissão, e o amadurecimento profissional do bailarino tem que acontecer muito rápido, somos artistas e em alguns períodos de nossa carreira isso pode ser um êxtase ou muito frustrante.

MB - Como é ser reconhecido pelo trabalho com dança e ser considerado um dos melhores bailarinos do seu país?

YS: O Carinho do público é maravilhoso, e uso isso como força para melhorar cada vez mais as minhas perfomances! Ser reconhecido pelo seu trabalho é muito bom, mas procuro não ficar cego em relação a isso, tenho bem nítido na minha mente que tenho muito a melhorar sempre nas minhas performances, gosto de estabelecer metas de coisas que tenho que melhorar ou me aprofundar. Sempre procuro usar todo esse reconhecimento de uma forma produtiva para a dança, gosto de dar aulas e workshops, poder conversar com as pessoas e tentar passar o que aprendi. A Dança se torna viva de pessoa para pessoa!

MB - Apesar de termos muita gente dançando no Brasil, você acha que temos um público consumidor de espetáculos de dança relativamente pequeno?

YS: O público cresceu muito. Claro que ainda tem muito a melhorar, mas eu vejo uma grande progressão no interesse da população pela dança, independente de qual seja o estilo, o meu desejo é que todos possam sentir os prazeres e sensações que essa arte pode dar, seja sentindo no corpo ou apreciando no corpo de outra pessoa!
Para mim o mais importante é quebrarmos o preconceito que existe em relação a dança, pois viemos de uma sociedade que antigamente considerava a profissão de bailarino algo vulgar e inadequado.

MB - Há quase 10 anos na SPCD, como é a relação com os outros bailarinos da Cia? Vocês são amigos fora de ballet? Essa coisa de bailarino só tem amigo bailarino procede?

YS: Sempre procuramos um ambiente de troca, acho que uma das coisas mais importantes de um bailarino dentro de uma companhia de dança é saber trabalhar em equipe, cada um dos funcionários dentro de uma empresa é importante, como em um formigueiro, cada um tem suas responsabilidades e todos trabalhando juntos é que fazem algo acontecer. Essa parceria, essa forma informal e amigável que temos nos torna muito próximos, sem contar que passamos muitas horas juntos, então a maioria dos meus amigos estão relacionados a a companhia ou a dança de certa forma. 

MB - Quais seus desejos Bailarinísticos para um futuro próximo e um futuro distante e o que você faz para alcançar esses objetivos?

YS: Meu desejo é que mais e mais pessoas se apaixonem e descubram o quanto dança é maravilhosa, seja como espectador, como um trabalho funcional, uma terapia, como profissão ou mesmo para extravasar! Para isso eu me dedico todos os dias para ser o melhor no que faço sempre e assim poder contagiar de alguma forma mais e mais pessoas.  

foto: Willian Aguilar (ballet 101) São Paulo Companhia de Dança 2012


MB - Você acha que a Dança exige mais de você do que outras profissões exigiriam, ou acha que para fazer em alto nível, qualquer profissão teria o mesmo nível de exigência?
YS: Nós vivemos nosso trabalho e dedicamos um grande tempo de nossas vidas a ele, não é profissão que exige, somos nó que nos cobramos por algo que desejamos alcançar, e essa inquietude, desespero, amor e ódio é vivida por nós sempre, pois nenhum artista é conformado com seu trabalho, existe uma luta constante com nossos próprios fantasmas. Tem uma citação de John Lennon que adoro "Não é divertido ser artista. Beethoven, Van Gogh, todos eles: se tivessem psiquiatras nós não teríamos esses gênios." acredito nessa insanidade como combustível para nossa busca artística. A exigência esta em nós, e não na profissão. 

Foto:  (Le Corsaire) São Paulo Companhia de Dança 2016


MB -  E você? Se exige muito?

YS: Muito! Posso dizer que chega a ser uma tortura! As vezes procuro parar e refletir se não estou sendo rígido demais comigo, tento ser exigente mas benevolente. 

MB - Para você dançar é:

YS: É a minha religião, é a vida que escolhi, é aquilo que deposito todo o meu trabalho e tempo de vida.
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